Descobri recentemente que estou ficando velho e “fora de moda”, pois percebi que não estou mais entendendo as coisas muito bem.
Sou da época que andávamos em estradas cheias de buracos, sem asfalto, carro era fusca e Brasília, sem cinto de segurança, pai fumando no volante e mãe no banco da frente com o mais novo no colo, porém descobriram que estávamos todos errados. Hoje todo mundo de cinto de segurança, banquinho para o neném, e nunca se matou tanto na estrada. Na minha época de criança também não existia capacete, e os jovens adoravam fumar pilotando moto.
Por falar em cigarro, na época tínhamos propaganda de todas as marcas na televisão, lembro até hoje a do Malboro e do Paquetá, depois descobriram que cigarro mata. Hoje é proibido até fumar em boteco, porém pode fazer marcha para a liberação da maconha. Nunca teve tanta droga destruidora, é crack, oxi, cocaína, você encontra em qualquer lugar, incluindo no botecos onde você não pode fumar, o uso indiscriminado de drogas deve ser provavelmente por culpa do cigarro.
Sou da época que beijo em homem era somente na mão. Beijava na mão do pai, do tio, do padrinho para tomar benção, hoje está permitindo tudo, é a tal modernidade. Sem preconceito e com todo o respeito aos moderninhos, prefiro continuar antigão e fora de moda.
Na escola éramos divididos em dois grupos, os que passavam de ano, e os que eram reprovados, alguns ficavam anos na mesma série, todos eles não precisavam de psicólogo, de dinâmica de grupo, etc., todos em sua maioria se tornavam cidadãos de bem. Hoje, tanto cuidado com nossos alunos, e eles entram armados nas escolas, agridem professores, matam sem piedade seus colegas, por fim recebem uma correção sócio educativa para suas barbáries e tudo bem. Na minha época apanhávamos na escola, apanhávamos em casa, o professor era respeitado, os pais eram respeitados, éramos felizes, e acima de tudo não transgredíamos as leis. Hoje terceirizamos a educação dos nossos filhos, eles mandam em casa, na rua e na escola, coitado do pai ou professor que contestar um filho ou aluno.
Lembro como se fosse hoje meu saudoso pai relembrando da final da Copa de 1954, a qual ele acompanhou de rádio, e os 200 mil brasileiros no Maracanã lamentando a derrota para o Uruguai. Em 2014, passados 60 anos o mesmo estádio receberá novamente uma final de copa, porém parece incrível, menos de 80 mil pessoas poderá entrar, o estádio encolheu em nome da segurança, porém naquela época, em 1954, ninguém morria por causa dos loucos assassinos vestidos de torcedores de hoje que estão por aí, ou saiam quebrando tudo para comemorar ou protestar conforme o resultado da partida.
Aqui, até pouco tempo a nossa diversão para o final de semana era ir aos estádios de Laranjal e Palma para assistir partidas de futebol, algumas memoráveis, porém em nome da nova ordem, nossos simples e modestos estádios estão sendo interditados por causa de inúmeras exigências, são leis Européias a ser implantadas no interior de um pobre país de terceiro mundo, pois com certeza está tudo certo no país. Não jogamos nosso esgoto direto nos rios, não desmatamos, não poluímos, todas as crianças estão alfabetizadas, o SUS funciona, todos os criminosos estão presos e julgados, tudo está uma beleza no Brasil, por isso agora decidiram cuidar dos “campinhos de várzeas” no interior, inviabilizando a prática do mais popular e democrático esporte. Com uma bola de R$10,00 jogam de 2 a 40 crianças, mas nunca se joga sozinho. Entretanto em nome da nova ordem, da tal modernidade, devemos mudar, ou melhor, nos adaptarmos, e acabar com os nossos primitivos hábitos. Não condiz com um país como o Brasil freqüentar (COM TREMA MESMO, PARA PROVAR QUE ESTOU MESMO FICANDO VELHO) campinho de várzea com tantas opções de cultura espalhados pela nação, como por exemplo, teatros, cinemas, museus. Definitivamente jogar futebol é antiquado.
Não me lembro pelo menos nestes últimos anos de ato violência, brigas em nossos campos, mas falando dos grandes estádios, com tudo certinho, todo dia morre um, ou quando não cai um pedaço dele.
Daqui uns dias nossos filhos serão proibidos por lei de tomar banho em nossos ribeirões, por causa do risco de afogar - Que saudade dos piques no Ribeirão São João em Laranjal e no Capivara em Palma; de andar de bicicleta por causa de cair e machucar; seremos obrigados a ficarmos em casa dividindo nossos tempos entre o computador e a TV, nos tornando meros espectadores da vida.
Do jeito que as coisas vão, somente nos sobrará os nossos velhos “Estrelão” de jogo de botão como “estádio” para jogar uma bela partida de futebol, para os mais velhos, ou o console de um vídeo game para os mais novos. Realmente estou ficando velho.
Notinha de final de texto: “Tô” morrendo de medo de um desses homens que fazem as leis no Brasil em cismar de acabar com a “tal lei da gravidade” para evitar que caiam aviões.
Laranjal, janeiro de 2011, Copa Revela Talentos
Laranjal, 14 de maio de 2011, Sub 13 e 15 Liga de Cataguases
O público não pode assistir o jogo
Qual será a ameaça de crianças brincar de bola?
Em campo somente jogadores e comissão técnica. Era somente um jogo de crianças, nem os pais podiam entrar para assistir a partida - Falta lógica e bom senso nas leis brasileiras, estão acabando com a diversão da população nas cidades do interior
Tarcisio William Duarte – Laranjal, 13 de maio 2011. Dia da Libertação dos escravos no Brasil: Será mesmo, ou somente mudaram os nossos senhores?